De fato, a principal responsabilidade do arquiteto é proteger a saúde, a segurança e o bem-estar do público, que inclui uma população diversificada com graus variados de habilidades físicas e intelectuais.
A neurodiversidade refere-se a essa variabilidade intelectual e cognitiva que incluem uma mistura de pessoas neurotípicas e neurodivergentes. Os “divergentes” são normalmente conhecidos como aqueles com diferenças na comunicação, aprendizado ou comportamento. Logo, o objetivo de um arquiteto não é projetar um edifício exclusivamente para populações neurotípicas ou neurodivergentes, mas sim um edifício onde todos os usuários se sintam bem-vindos e confortáveis.
Quando olhamos para o passado, o ambiente construído não tem sido um espaço neutro. Na maioria das vezes, o espaço é projetado com a suposição de que todos os usuários são neurotípicos, ou seja, pensam, expressam-se e compreendem o espaço da mesma forma. No entanto, cerca de 20% da nossa população experimenta alguma forma de neurodivergência. Assim, a experiência em um espaço varia de uma pessoa para outra, cada uma com suas próprias percepções e habilidades para se sentir confortável no ambiente.
Levar em consideração tal variabilidade neurocognitiva durante o planejamento do projeto corporativo é pertinente para um bom design. Apenas em supor que os usuários não são iguais nos aspectos cognitivos e físicos, a arquitetura já abre espaço e uma leque de opções para a acessibilidade física e cognitiva do neurodivergentes.
Quando se trata do local de trabalho, um design verdadeiramente inclusivo considera todas as situações e habilidades pessoais, desde a saúde mental até diferentes práticas culturais e deficiência física.
Neste artigo, veremos as maneiras pelas quais as empresas podem projetar para todos, concentrando-se especificamente em fornecer um escritório neurodiverso e inclusivo para pessoas com deficiência ou diversidade cognitiva.
Princípios de design inclusivo e empático para a acessibilidade física e cognitiva
Aumentar a acessibilidade é mais do que instalar rampas, grades, banheiros adaptados e elevadores – embora isso seja uma parte crucial e basilar de um projeto inclusivo. Para serem realmente acessíveis, os locais de trabalho precisam atender a todas as necessidades, como deficiências visuais, auditivas e cognitivas.
Para funcionários neurodivergentes, por exemplo, o local de trabalho pode ser opressor, pois historicamente o escritório foi projetado por e para pessoas neurotípicas. A velha abordagem de espaço de escritório claro e aberto para servir como um centro de atividades não leva em consideração a hipersensibilidade dos funcionários neurodivergentes ao som, à luz e ao cheiro.
Os locais de trabalho podem combater isso fornecendo espaços de trabalho versáteis e flexíveis, mas mesmo essa forma híbrida de trabalhar apresenta desafios imprevisíveis, como desentendimentos entre colaboradores, ruídos elevados e elevada estimulação luminosa.
Definir claramente as zonas pode ajudar a mitigar a sobrecarga sensorial, mantendo as áreas separadas para socialização, concentração e relaxamento. Para funcionários neurodivergentes, manter a cozinha e as áreas de alimentação longe das mesas de trabalho apresentam-se como uma ótimas estratégias de evitar hipersensibilidade a odores.
O espaço de trabalho moderno fornece poucas facilidades ao foco atencional durante os horários de produção. A maior ênfase está em zonas colaborativas e sociais, em vez de espaços individuais para trabalhos ininterruptos. Isso acaba contribuindo para a poluição sonora que afeta a concentração e o bem-estar em geral em níveis elevados, mas pode ser extremamente ensurdecedor para pessoas com neurodiversidade.
Logo, ofertar áreas silenciosas dedicadas ou compartimentos à prova de som, como biombos ou placas acústicas, podem proporcionar uma ambiência mais inclusiva e democrática, dando aos funcionários a oportunidade de escolha e o refúgio longe do alto barulho proveniente dos teclados, maquinários corporativos e conversas entre trabalhadores.
Evidências mostram que cerca de 98% dos funcionários americanos são interrompidos pelo menos três ou quatro vezes por dia, reduzindo as taxas de foco atencional e produtividade. Portanto, fornecer espaço para o trabalho individual e sensorialmente integrado é fundamental para gerenciar o bem-estar de todos os funcionários, tornando os espaços mais empáticos para todos na produtividade e cultura corporativa.
O espectro da neurodiversidade é amplo, impactando não apenas diferenças físicas e sensoriais, mas também afetando estilos de comunicação, interação social e a forma como as pessoas processam informações. Oferecer áreas para reuniões privadas para orientação e uma variedade de opções de comunicação (escrita, vídeo, reuniões) para transmitir informações importantes pode auxiliar os locais de trabalho a serem mais inclusivos em suas estratégias internas.
Estratégias de design centrado no ser humano
Os elementos de design centrados no ser humano são empáticos com a singularidade sensorial de cada funcionário. Apoiam-se na noção de que o design de um local de trabalho deve ser informado pelas necessidades de seus ocupantes. Isso significa que um design verdadeiramente inclusivo e empático considera profundamente o impacto da visão, da textura e da cor da atmosfera corporativa.
A instalação de mobiliários pensados para promover tranquilidade e sossego no ambiente de trabalho, como móveis com rodas de aspecto amadeirado e orgânico, tendem a proporcionar formas mais suaves, curvas e tons terrosos. Incorporar poltronas, abajures, almofadas, mesas de centro e iluminação dimerizável e não intermitente possibilita a criação de um ambiente mais ajustável, capaz de reduzir a sobrecarga sensorial e, consequentemente, restaurar a atenção e o equilíbrio mental do colaborador.
Embora cores e padrões ousados no design do local de trabalho sejam ótimas ferramentas para branding e criação de um senso de comunidade dentro de um escritório, alguns padrões podem ser problemáticos para pessoas neurodivergentes.
Padrões geométricos, por exemplo, combinados com paletas de cores intensas podem criar sobrecarga sensorial para pessoas com diferenças neurológicas. Além disso, podem ser desorientadores para pessoas com dificuldades físicas, causando problemas de saúde, mobilidade e segurança.
Esta é apenas uma das muitas razões pelas quais os princípios de design natural e biofílico têm um efeito calmante e regenerativo sobre os seres humanos e, portanto, são úteis quando se busca um ofício universal inclusivo.
Natureza como parte integradora do processo
Biofilia refere-se à nossa conexão humana intrínseca com o mundo natural. Os princípios do design biofílico foram repetidamente comprovados em vários estudos para aumentar o desempenho cognitivo, reduzir o estresse, melhorar a cura e afetar positivamente o humor. A integração disso no local de trabalho melhora a produtividade, o bem-estar e é particularmente favorável para pessoas com doenças mentais, como ansiedade e depressão.
O design biofílico dá aos funcionários acesso a vistas da natureza e traz o ar livre para dentro, por meio de vegetação, plantas, iluminação natural e até fontes de água. É importante observar que alguns recursos hídricos produzem muito ruído e, portanto, podem ser empecilhos ao considerar aqueles com sensibilidade acústica.
Pesquisas realizadas que usaram técnicas de análise de imagem sobre as respostas das pessoas a padrões de pisos comerciais frequentemente encontrados em escritórios mostraram que algumas têm efeitos negativos, mas em maior grau para funcionários neurodivergentes. Materiais e formas naturais, como a madeira, normalmente contêm níveis mais baixos de ruído visual e são uma opção melhor, pois são mais fáceis de processar pelo cérebro, tornando o uso do espaço muito mais fácil e agradável para todos.
O uso de madeira e materiais naturais nos móveis e o uso de plantas em todo o ambiente construído também ajudam os negócios a serem mais sustentáveis, além de trazer benefícios genuínos à saúde, como a melhoria da qualidade do ar.
O uso de paletas de cores naturais como marrons, verdes e azuis claros também promovem a calma e reproduzem a sensação de estar rodeado pela natureza. Garantir que os funcionários tenham acesso à iluminação natural por meio do uso de claraboias e grandes janelas são essenciais para minimizar o impacto da tecnologia e da iluminação do escritório sobre os colaboradores.
Por fim, ao projetar o espaço para acomodar uma variedade de estilos de trabalho, tipos de personalidade e habilidades, podemos criar espaços onde todos possam encontrar um ambiente que atenda às suas necessidades para realizar com sucesso a tarefa em questão. Precisamos garantir que todos possam desfrutar ativamente de suas habilidades e utilizarmos o design em prol dessa diversidade, propondo uma arquitetura onde todas as pessoas possam prosperar.